quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

MENSAGEM DE NATAL

Ol� meus amigos,
� com grande alegria que encerramos o ano de 2010, um ano agitado, emocionante e com muitas vit�rias.
Espero que o ano de 2011 seja ainda mais vitorioso, com muitas conquistas para todos.
2011 ser� regido por Merc�rio, trazendo mobilidade, conhecimento, boa comunica��o e muitas id�ias novas para todos n�s.
No hor�scopo chines o ano ser� regido pelo Coelho, que traz um ano mais calmo, muito bem vindo e necess�rio ap�s o feroz ano do Tigre. Ser� um ano para repousar e curar as feridas ap�s as batalhas do ano anterior. A vida ser� mais facil e movimentada, e os resultados ser�o alcan�ados sem grandes esfor�os.
QUE 2011 SEJA UM LINDO ANO PARA TODOS N�S!!!
BOAS FESTAS!
Arvore%20Natal
Beijos de Luz,
Heloisa Lesniak

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Procura-se um Marido



Procura-se um marido

Escritora egípcia entra no filão das comédias românticas para mulheres de 30 anos e conta a saga de Bride, uma egípcia, farmacêutica, independente financeiramente, mas que ainda não arrumou um marido.

Claudia M. Abreu, de Roma claudia@agenciameios.com.br

Roma - Encontrar um marido no Egito aos 30 anos. Esta é a missão de Bride, protagonista do livro Che Il velo sia da sposa (Que o véu seja de esposa), da escritora e farmacêutica egípcia Ghada Abdel Aal, traduzido recentemente para o italiano, pela editora Epoché, e sucesso de venda nas livrarias do país, com direitos de publicação comercializados também para Alemanha e Inglaterra, mas ainda sem tradução para o português. Por meio de um divertido relato sobre os pretendentes que aparecem na sala da família de Bride, a escritora desenha um retrato atual da mulher na sociedade egípcia.


Claudia Abreu/Agência Meios Claudia Abreu/Agência Meios


Os dilemas de uma balzaquiana, formada em Farmácia, para arrumar um marido no Egito, estão no livro de Ghada Abdel Aaal

Tudo começou com um blog escrito em árabe (http://wanna-b-a-bride.blogspot.com), em 2006, idealizado pela escritora para encontrar amigos e dividir histórias. Era escrito com o pseudônimo Bride, esposa em inglês. Ghada tinha perdido a mãe e toda a sua família começava a se mobilizar para encontrar um bom marido para a moça. “Me apresentavam todos os tipos de pessoas”, disse Ghada, em entrevista à TG3 italiana.

 Aos poucos, post após post, a escritora percebeu que o seu dilema era comum a tantas outras moças no Egito, país que tem mais três milhões de mulheres entre 30 e 35 anos solteiras. Os seguidores do blog chegaram a 500, sempre ativos, publicando comentários. Hoje são mais de 600.

Ghada diz que, no início, tinha medo da reação das pessoas aos textos do blog, que eram divertidos, engraçados, mas também muito reflexivos. O Egito tem enfrentado uma dura crise econômica, que, como todas as crises, reflete nos hábitos e costumes da sociedade. As taxas de desemprego, por exemplo, são altas, superiores a 10% da população, e cerca de 20% vive abaixo da linha da pobreza.

Sem condições financeiras para manter uma casa, boa parte dos homens na faixa dos 30 anos não se arrisca, mora com os pais e não se casa. Se para eles pode ser até confortável, para as mulheres, na mesma faixa etária, a situação é sinônimo de fracasso pessoal.

Com as expectativas de casamento em baixa, somada à situação financeira das famílias do Egito, investir na profissão passou a fazer parte do cotidiano das mulheres de 30 anos que, cada vez mais, se dedicam ao trabalho e à formação universitária.

Segundo Ghada, formada em Farmácia, portanto doutora no Egito, é muito comum encontrar mulheres que trabalham fora, ganham mais do que os homens e não abrem mão da carreira e, claro, do uso da Internet. Fato que aparece nas perguntas da mãe de Bride para o futuro marido da filha: “E quanto ao trabalho? E à Internet?”. E um dos motivos do sucesso do blog, que abriu as portas para o livro de Ghada, que já vendeu 2.000 cópias na Itália.

Os pretendentes

A escritora, comparada à Helen Fielding - autora de Bridget Jones, de 2001, livro que virou filme - na mídia italiana, diz que não foi influenciada pela autora inglesa. Também não assistiu a série Sex and the City, da americana Candace Bushnell ou leu Comer, Amar e Rezar, de Liz Gilbert.

Começou a escrever simplesmente para contar a sua experiência e ouvir que não era “uma estranha que não conseguia encontrar um marido”. “Eu não esperava tanto sucesso, sinal de que precisávamos de uma voz que dissesse o que nós, mulheres árabes de 30 anos, sentimos (em relação à questão do casamento)”, disse a escritora à TG3.

No livro, Bride descreve 10 pretendentes, reunidos da experiência de Ghada, das suas amigas, e das seguidoras do blog, e os amigos da família, como tia Ficcanaso e tio Disco, que tentam, desesperadamente, encontrar um marido para a protagonista.

Do primeiro, um doutor homeopata, que depois vira um imitador de personagens famosos e se veste “como um arco-íris, com todas as roupas do varal”, passando pelo ladrão, que corteja Bride apenas para lhe roubar a carteira dentro do ônibus, até o baixinho, muito baixinho que “parecia um desenho animado” e que apaga todas as luzes da casa, por questões econômicas, e acende velas, irritando profundamente o pai de Bride, ao último, Imed “o Belo”, que vive em Londres, é casado, mas sua mãe quer que se case com uma egípcia, “pois assim, poderá voltar para casa a cada três meses”, Ghada descreve o comportamento de cada um deles, envolvendo o leitor na corrida da protagonista pelo casamento.

Depois do décimo, Bride decide parar um pouco com a busca frenética, mas uma amiga do trabalho, Noha, encontra um namorado. “Não é um rapaz bruto, só é magro como um junco, as orelhas, é claro, brigaram entre elas, mas é uma criatura de Deus”, escreve Bride, com uma tremenda dor de cotovelo, mas também cheia de energia para continuar a corrida, pois, no final, apesar do caminho tortuoso, Ghada, a autora, quer se casar - e deixa isso claro para as leitoras do livro e do blog. Assim como as ocidentais Carry Bradshaw, de Sex and the City, e Bridget Jones. 

Feira Mactech

Feira Mactech
25 a 28 de Novembro de 2010 – Cairo – Egito



A Feira Mactech proporciona às empresas fabricantes o futuro em termos de tecnologia de manufatura no Oriente Médio. Ao participar da feira, a empresa terá acesso aos últimos modelos de ferramentas para máquinas e equipamentos industriais e terão a oportunidade de interagir com os maiores fabricantes mundiais.

A Feira Mactech vem sendo o ponto de conexão entre os fabricantes da Europa, EUA e Leste da Ásia e países importadores do Oriente Médio e África.

A feira consolidou-se como o maior evento anual de fabricantes do Oriente Médio, proporcionando, num mesmo evento, o contato entre compradores, vendedores e consumidores finais de máquinas, ferramentas industriais, equipamentos de soldagem e de corte. 
Os visitantes encontram as mais novas tecnologias e aplicações para fazerem suas operações mais produtivas.  Expositores reúnem-se com fabricantes, com o intuito de renovar seus equipamentos e construir uma relação comercial frutífera.

A Câmara Árabe terá um stand na feira, para as empresas brasileiras exporem seus produtos e realizarem negócios.

Aproveite esta oportunidade! Clique aqui para se inscrever!

Investimento para participar da feira: R$ 3.500,00 (Estande decorado, com recepcionistas bilíngues e todo o suporte técnico do staff da Câmara Árabe).
Condições de participação: As empresas interessadas devem preencher a ficha de cadastro no site da Câmara Árabe. Será feita uma seleção das empresas inscritas, e as selecionadas serão informadas.

Para mais informações, entre em contato:Câmara Árabe - Departamento de Comércio Exterior
Fone: 55 11 3147-4115 – Contato: Nadia Abdallah
E-mail: comex@ccab.org.br

Agência Nacional Brasil Árabe

Sobre a ANBA

A ANBA (Agência de Notícias Brasil-Árabe) foi criada em setembro de 2003, pela Agência Meios, atendendo a um pedido da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. A agência nasceu para promover a comunicação entre o Brasil e os 22 países árabes representados pela entidade. Em edição bilíngüe, inglês e português, atualmente é o canal de troca de informação mais importante da Câmara Árabe.

O objetivo principal da ANBA é fomentar as relações entre brasileiros e árabes. O resultado tem sido o crescimento e a geração de novas oportunidades de negócios, o estreitamento das relações culturais e o fortalecimento das relações diplomáticas. Assim, a agência é focada nas áreas de economia, negócios, comércio exterior e de cultura.

O conteúdo da ANBA é produzido por uma equipe qualificada e experiente de jornalistas, apoiada em uma rede de correspondentes em todo o território nacional e em parcerias estabelecidas com órgãos noticiosos dos países árabes. Com duas equipes de produção, uma alocada na sede da própria Câmara Árabe, e outra na Meios, em São Paulo, a ANBA está no ar nas 24 horas do dia.

Além do projeto, a produção e a coordenação jornalística e editorial da ANBA são de responsabilidade da Agência Meios.

Prêmios

A agência já conquistou sete prêmios de jornalismo. Em 2004 e 2005, a equipe da ANBA ganhou o prêmio da Confederação Nacional do Transporte (CNT) na categoria internet. Em 2006, venceu o prêmio da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), na categoria website, e o prêmio da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), na categoria online. No mesmo ano, ficou entre os três finalistas da categoria online do Prêmio Massey Ferguson, do qual foi vencedora na edição de 2007.

Ainda no ano passado a ANBA recebeu o Prêmio Especial de Reportagem CNC 25 Anos, na categoria internet, concedido pelo Conselho Nacional do Café (CNC), foi finalista do Prêmio Alexandre Adler de Jornalismo em Saúde, e faturou o Prêmio Embrapa de Reportagem na categoria internet. Em 2008, a ANBA ficou entre os seis finalistas da região Sudeste na primeira fase do Prêmio Sebrae de Jornalis

Fonte: http://www.ccab.org.br/site/


terça-feira, 22 de junho de 2010

Costumes no Egito - Parte 2

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Sibha, o "rosário" islâmico

A sibha era conhecida nos tempos antigos e usada como ornamentação e amuleto e, acredita-se, foi introduzida no mundo cristão e árabe pelos chineses e indianos.
Várias religiões usam a sibha de um modo ou de outro. As palavras podem ser diferentes mas o propósito é o mesmo: louvar a Deus. A palavra sibha provém de tasbeeh, uma palavra que reconhece a perfeição de Alá através da fala de seus "99 nomes perfeitos".
A sibha tem diferentes partes: as contas, um contador e uma mizana, que significa "minarete" e está na parte mais alta da sibha.
Há dois tipos de sibha largamente conhecidos no islamismo: aquela de 33 contas e uma outra de 99 contas. A primeira é 1/3 da sibha total e é a mais utilizada pela população do Cairo. Víamos a profunda religiosidade dos egípcios muçulmanos rezando com seus "rosários" nos mais diferentes locais: no táxi, nas ruas, sentados nas calçadas. Como sabemos, o fiel muçulmano não deve proferir o nome de Alá, porém os seus vários nomes perfeitos, como por exemplo: Al-Khabir (o Grande), Al-Alim (o Onisciente), Al-Basir (o Onipresente).
As contas da sibha podem ter diferentes formas, como a de oliva, de uma lágrima ou semente de trigo. As contas podem ser feitas com material barato, como plástico, ou material caro, como pedras preciosas ou ouro.
Os materiais mais utilizados para fabricar sibha no Egito são pó de âmbar, osso, madeira de sândalo e yousr, uma espécie de coral. No Egito, contas já lapidadas de rubi, jade, esmeralda e lazulita são importadas do Brasil, Itália, Alemanha e dos EUA.
Há quadros egípcios que contêm gravados os "99 nomes perfeitos de Alá", todos eles começando com o artigo "Al". Podem ser pequenos tapetes de lã ou seda pura, ou quadros com fundo negro com os nomes em dourado, encontrados com freqüência nas lojas e nas residências dos egípcios.

Dr. Ragab e a reinvenção do papiro

Os egípcios foram pioneiros em vários ramos da ciência, como medicina, astronomia e a escrita. A escrita egípcia começou com simples pinturas de objetos (pictogramas), evoluiu para a pintura da idéia (ideograma) e terminou com o hieróglifo (fonograma) traçado no papiro, palavra que deu origem, mais tarde, ao vocábulo "papel". Há mais de 5.000 anos e num período de 3.000 mil anos dominaram esse método de imprimir caracteres e desenhos em papiro, até que em 105 de nossa era os chineses inventaram o papel. O papiro, a partir de então, entrou em desuso e sua técnica de fabricação foi esquecida. Além do Egito, o papiro crescia também na Síria e na Mesopotâmia.
A papirologia é uma ciência auxiliar da História, abrangendo documentos que datam do II milênio a.C. até o século XII d.C. O interesse pelos papiros começou em 1752, com as descobertas feitas nas ruínas de Herculano, onde foram encontrados mais de 1.800 rolos de papiro, incluindo obras filosóficas de Filodemo, cuja publicação só ocorreu em 1793.
Na aldeia de Medinet, na região de Fayyum, ao sul do Cairo, foram descobertos mais de 100 mil papiros. Desses, 70 mil foram adquiridos pelo arquiduque Rainer e mais tarde doados à Hofbibliotheck, atual Biblioteca Nacional de Viena, que tem a maior coleção do mundo.
Encontra-se em papiro a maior parte do que se conhece da literatura do Egito antigo, incluindo os textos litúrgico-funerários do Livro dos Mortos. Em papiro conhecemos elementos para a história econômica, política e administrativa da antigüidade, bem como estudos matemáticos, tratados médicos, princípios de zoologia e botânica.
Para os estudos bíblicos, a papirologia se mostrou de grande importância: é em papiro que se conhece o mais antigo texto dos Evangelhos, o fragmento de João, 18: 31-33 e 37-38, além de escritos apócrifos e dos Evangelhos Coptas.
O Dr. Hassan Ragab, nascido no ano de 1911 em Helwan, sul do Cairo, graduou-se em engenharia, com estudos suplementares em Paris. Foi adido militar em Washington e embaixador na China, onde pela primeira vez se interessou pelo papiro, vendo a fabricação do papel-bambu dos chineses.
O Dr. Ragab, a partir dos anos 60, começou a pesquisar o segredo da manufatura do papiro. A planta só foi encontrada por Ragab no sul do Sudão e na Etiópia, de onde trouxe as primeiras mudas que tem na sua plantação de papiro, na chamada "Ilha Faraônica", no Rio Nilo, junto ao Cairo. Após vários anos de pesquisas, o Dr. Ragab conseguiu descobrir a técnica de fabricação do papiro que é hoje utilizada por muitos centros produtores nas imediações do Cairo. A "Ilha Faraônica" é assim chamada porque o Dr. Ragab instalou na mesma uma espécie de Disneyworld local, com dezenas de atores que se vestem como os antigos egípcios e cultivam a terra como nos tempos faraônicos. Uma festa para as filmadoras dos turistas.
A planta de papiro é na realidade um talo longo, de 2 a 3 m de altura, com folhas ralas na parte superior. Além do papel-papiro, a planta também era utilizada pelos antigos egípcios para a fabricação de barcos.
Para a confecção do papiro, corta-se o talo da planta em fatias e deixa-se na água por algum tempo para dissolver materiais estranhos, principalmente glicose (açúcar). Em seguida, as tiras são entrelaçadas, horizontal e verticalmente, e colocadas numa prensa para uma perfeita adesão. Não há necessidade de cola. A própria planta possui substância para essa adesão. Depois de seco, o papel-papiro é cortado em tamanhos diversos e os grandes centros de produção contratam um pequeno batalhão de pintores, principalmente estudantes da Faculdade de Belas-Artes do Cairo.
No caminho das pirâmides de Gizé até as pirâmides de Sakara, junto a um canal do Nilo para a irrigação, encontram-se os mais importantes centros produtores de papiros do Egito. Disputam a preferência dos turistas papiros simples, que na rua custam 1 libra, até os que cobrem uma parede inteira e valem um pequena fortuna. Antigos cooperadores do Dr. Ragab, depois de aprenderem o ofício, abriram suas próprias fábricas. No mesmo caminho podem ser visitados também grandes centros produtores de tapetes. Embora não tenham a fama dos tapetes persas, turcos ou paquistaneses, há tapetes egípcios para todos os gostos, desde tapetes minúsculos de lã, que custam 60 dólares, até os luxuosos tapetes 2x3 m, em seda pura, que custam até 20 mil dólares.
Pela durabilidade do material e por causa de sua significação histórica, importantes documentos governamentais egípcios são, ainda hoje, redigidos em papiro. Anos atrás, no Brasil, muitos diplomas de engenheiros e médicos eram também feitos em papiro, como me confidenciou um amigo.
Conhecemos os Institutos de Papiro Dr. Ragab, no Cairo e em Lúxor, ambos os museus instalados em barcos ancorados no Nilo. Nesses museus pudemos observar muitos desenhos em papiro, tanto reproduções de cenas faraônicas encontradas em templos e tumbas, como motivos muçulmanos do Corão e até desenhos coptas, como a Sagrada Família que fugiu para o Egito. Nos museus há fotos do Dr. Ragab com personalidades do mundo inteiro, como Henry Kissinger e Jimmy Carter, demonstrando o prestígio do inventor.
Há também os espertalhões que, ao invés de utilizarem a planta de papiro, fazem uso de folhas de bananeira ou cana, obtendo um produto semelhante, porém de péssima qualidade e nenhuma durabilidade.

Os núbios - um povo que perdeu sua terra

Em 1971, foi inaugurada a Represa de Assuã, construída com ajuda técnica e financeira da antiga União Soviética. A Represa inundou todo o território fértil da Núbia, no Vale do Nilo, originando-se a formação do Lago Násser, de 500 km de extensão. O termo "núbio" é genericamente aplicado ao povo que habitava entre a 1ª Catarata, em Assuã, e Dongola, no Sudão. A Represa passou a regularizar a vazão do Rio Nilo, evitando as enchentes. Porém, o Vale do Nilo, de Assuã até o Delta, passou a não mais receber a preciosa terra negra, o húmus que as enchentes traziam e fertilizavam o Vale. Com isso, os terrenos estão ficando muito salinizados e não se sabe ainda o impacto que isso poderá ter no futuro.
Para evitar a submersão de numerosos templos e estátuas faraônicas, devido à construção da Represa de Assuã, a UNESCO promoveu uma gigantesca operação de engenharia, fazendo resgate de numerosas obras e transferindo de local templos inteiros. O complexo de Abu Simbel, o maior monumento no local, com templos e estátuas de Ramsés II medindo 20 m de altura, foi cortado em enormes blocos e reconstruído nas imediações, em local mais alto. O templo de Philae, coberto pelas águas da antiga Represa de Assuã, construída em 1902, também foi desmontado pela UNESCO e reconstruído, pedra sobre pedra, em outra ilha, próxima do local original.
Em Abu Simbel observa-se outra prova do avanço da astronomia no antigo Egito: nos dias 20 de fevereiro e 20 de outubro, dias do equinócio, os raios do sol passam por uma porta e iluminam uma estátua do faraó no fundo do templo.
Durante os 10 anos antes do final da construção da Grande Represa, a população total da Núbia foi retirada de sua terra natal. Uma metade foi colocada no Egito, em Kom Ombo, 15 km ao norte de Assuã e a outra metade assentada no nordeste do Sudão, em Qashim Al-Girba. Anteriormente, outras represas menores, construídas a partir de 1902 e cada vez mais altas, começaram a inundar as terras núbias e seu povo tinha que, cada vez mais, se afastar de seu torrão natal.
Os núbios são facilmente reconhecidos no Egito pela sua pele preta, mas sem os traços negróides da África subsaariana. Os núbios são altos e esguios, de olhos amendoados, nariz pequeno e lábios finos. Até hoje mantêm suas tradições e sua linguagem própria e poucos se casam com egípcios propriamente ditos.
Os árabes conquistaram a Núbia no século VII e retiraram-se após concluirem um tratado com o rei núbio cristão, que durou 600 anos. Os núbios concordaram em enviar, todos os anos, 350 escravos ao Cairo em troca de alimentos, cavalos e roupa. A partir do século XI, começaram a se estabelecer tribos árabes na área, que se integraram aos núbios, vindo a ser conhecidos como Beni Kanz (Filhos de Kanz), um nome ainda aplicado aos núbios do norte.
Os núbios sempre foram uma presença constante no Egito, como os barqueiros do Nilo junto às rochas graníticas de Assuã, os guardas dos monumentos do Alto Egito, empregados domésticos, copeiros e cozinheiros. Atualmente, muitos se destacam como doutores e cientistas provenientes das melhores universidades egípcias.
As mulheres núbias são conhecidas como exímias artífices de joalheria feminina, principalmente aquela feita de contas de vidro. Entre seus produtos destacam-se as tiras de taha, fitas de contas afixadas na frente do véu preto que as mulheres egípcias usam, criando um efeito bonito para a cabeça. As taha são usadas, ainda, como cinto e nas golas em "V" de vestimentas femininas. As núbias costumam, ainda, fazer tranças nos cabelos, umas nas outras.
Uma outra marca registrada da cultura núbia são os tapetes de lã ou algodão, de acabamento rústico. Normalmente, os tapetes núbios retratam cenas árabes, com camelos, tamareiras, casas com coberturas abobadadas - típicas da região -, em tons preto-e-branco, destacando-se ainda as figuras humanas estampadas em tapetes, como se fossem máscaras de atores teatrais.

Criação de cabras em apartamento

Mohandeseen era o bairro onde morávamos, na cidade de Gizé, agora abocanhada pelo Grande Cairo. Nome proveniente de muhandis (engenheiro), o "bairro dos engenheiros" é bastante novo ainda, moderno, muitos espigões estão em fase de construção.
Há 20 anos atrás a área comportava granjas, hortas e pomares. Muitos dos antigos colonos venderam suas terras para construção de prédios, ganhando 2 ou 3 apartamentos em troca. Alguns granjeiros, até hoje, não mudaram de profissão, embora morem em edifícios. Continuam criando suas cabras e galinhas. Só com um detalhe: criam os bichos dentro dos apartamentos em que moram. Do apartamento de uma antiga Conselheira da Embaixada Brasileira, podiam ser vistas cabras recolhidas numa varanda, num prédio em frente. As cabras e galinhas, como os outros moradores do prédio, têm direito a utilizar o elevador...
Pouco depois que chegamos ao Cairo, ouvimos, à noite, alguns estampidos. Minha mulher logo disse que eram tiros. A princípio eu não quis acreditar. Várias vezes à noite voltávamos a ouvir tiros, sem saber o que acontecia. Algum tempo depois, consultando um mapa da cidade, editado em inglês, matamos a charada: tratava-se do Shooting Club (Clube de Tiro), onde se praticava tiro ao alvo em plena madrugada.
E tiro também se ouvia fora daquele Clube. Os filhos gêmeos do adido militar, uma noite, viram um soldado atirando num cão, em plena rua da cidade. O tiro atingiu o animal, que correu ganindo e mancando. Depois eu soube que era normal esse tipo de "limpeza", os soldados não se importando no risco de uma bala perdida atingir alguma pessoa.

Duas mulheres e vinte camelos

Apesar de se considerarem muito independentes - e o são, em relação a outros países árabes -, as mulheres egípcias ainda são bastante discriminadas. Há muito preconceito. Embora possam ter seus próprios bens e não precisar adotar o nome do marido, elas têm liberdade bastante restrita.
As egípcias não podem freqüentar certas mesquitas, não são vistas em cafés, são separadas em algumas escolas e há filas diferentes, para homens e mulheres, para pagamentos em bancos.
Apesar de pertencer a uma sociedade machista, no interior do Egito 49% das mulheres, entre a classe mais pobre, são chefes de família e o salário só depende delas. Os motivos vão da morte do pai de família, ou da emigração dos fellahin (camponeses) para a cidade ou para o estrangeiro em busca de futuro melhor.
Minha mulher Nice, uma vez, me disse que estava admirada com o aspecto geral das mulheres egípcias. A pele do rosto e das pernas era bonita, não tinham varizes e os seios pareciam ser bem durinhos. Passamos a imaginar que tudo isso era próprio do clima seco, onde tudo é mais rijo. Porém, andando um dia pelo centro da cidade, ao passarmos em frente a uma vitrine, deciframos a charada dos lindos seios das mulheres egípcias. Não que elas estejam familiarizadas com os soutiens hi-tech da atualidade, que realçam os seios. Elas, ainda hoje, utilizam enormes porta-seios, verdadeiros corpetes da época de nossas avós.
A mulher egípcia não é vista com bons olhos quando arranja um emprego. Mesmo os jornais menos conservadores não deixam de lembrar que os poucos empregos que se criam são cada vez mais preenchidos por mulheres, que deveriam cuidar das crianças em casa, para que os homens não ficassem desempregados. No Egito, o desemprego é crônico e muitos homens casados vão tentar melhor sorte no estrangeiro, principalmente nos ricos países do Golfo Pérsico. E os jovens com alguma instrução, não sendo filhos de famílias ricas, sonham em se estabelecer na Austrália, Canadá, Alemanha ou Estados Unidos.
A prostituição é mais freqüente do que se possa imaginar, pela facilidade da entrada a hotéis, sem identificação alguma. E é comum se ver mulher bem vestida saltar de táxi e entrar em Mercedes ou algum outro carrão, em locais escuros ou pouco iluminados. Como se vê, o que vale, muitas vezes, é a aparência. Aliás, já diz um ditado: "Quanto maior o vestido, mais sujeira ele oculta". No Egito, para muitas mulheres, cai como uma luva.
As estrangeiras, de modo geral, têm má fama. Os egípcios acham que todas elas são de vida fácil, prostitutas. O pior é que eles têm alguma razão, porque um bocado de gente vai até o Egito para "fazer a vida". Há muitos cassinos, corre muito dólar, principalmente quando aparecem os sauditas no Cairo para farrear. As brasileiras têm fama de serem "muito quentes". Algumas que passaram pelo Cairo deram o que falar...
Devido a isso, eu tinha que conviver com os egípcios com bastante diplomacia. Não eram todos. Mas uns poucos, às vezes, importunavam minha mulher, dizendo alguma piadinha ou soltando um assobio babaca, mesmo eu estando de braço dado com ela. Melhor era fazer de conta que eu não estava ouvindo. Porém, vez por outra, o saco estourava e eu gritava bem alto um ibn sharmuta! (efedepê). O sujeito olhava abostado, mas não esboçava nenhuma reação.
Um dia um desses egípcios inconvenientes seguiu minha mulher e minha filha até em casa e passou a cantarolar uma milonga árabe do lado de fora da porta, como se fosse um autêntico seresteiro. Minha mulher teve que chamar a Zina, mulher do bauab (porteiro), para botar o sujeito para correr.
No famoso bazar do Khan Al-Khalili, aconteceu um fato que não posso deixar de registrar. Enquanto víamos alguns objetos em metal numa loja, seu dono me propôs, à queima roupa, a troca de minha mulher pelas duas que ele tinha e mais 20 camelos... Não sabia se ria, agredia ou xingava o sujeito. Mas perguntei se a mãe dele vinha junto. Como o leitor sabe, tocar no nome da mãe é sempre meter o dedo na ferida, no Brasil, no Egito, em qualquer parte do mundo.
Brincando, eu disse à minha mulher que daria para começar um bom negócio no Brasil, quando eu retornasse, se ficasse de posse das 2 mulheres e dos 20 camelos: montaria um circo. Enquanto as crianças andassem a camelo, os adultos poderiam se deliciar com a dança do ventre...

Chuva no telhado, pingo na lata

No Cairo nunca chove, a não ser durante o inverno, principalmente em dezembro e janeiro. Mas é uma garoazinha bem sem-vergonha que não molha nada. Chuva mesmo, para valer, não poderá haver nunca no Cairo. Seria um caos total para a cidade. A inesperada tromba d'água que caiu na região de Assiut, em 1994, provocando incêndio em um depósito de combustível e matando mais de 500 pessoas, atesta bem a falta de condições do Egito em enfrentar uma chuva forte.
As varandas dos apartamentos não possuem ralos. Da mesma forma, as ruas não possuem galerias pluviais nem são construídas de modo a facilitar o escoamento das águas durante a chuva. Quando uma chuva mais forte cai sobre a cidade, tudo vira uma piscina de água imunda que dá gosto de ver. Se você ficar debaixo de uma árvore durante um chuvisco, fica todo salpicado de sujeira, por causa da poeira e da fuligem da poluição que haviam se grudado nas folhas da árvore e se desprendem com a chuvinha.
As primeiras chuvas são verdadeiras chuvas ácidas. A poluição acumulada nas nuvens desce sobre a cidade e os campos de plantação, causando danos à saúde das pessoas.
Os egípcios adoram o inverno, quando podem ver alguma coisa parecida com chuva. Porém, eles não andam pelas ruas com a cara levantada aos céus para pegar as sagradas gotas de água no rosto - como escreveu a revista Veja em uma de suas reportagens.
Num homework (dever de casa) do British Council, onde eu estudava inglês, um egípcio escreveu uma redação bem interessante. Com o título fornecido pelo professor, If I were a millionaire, o aluno escreveu que, se milionário fosse, compraria uma mansão à beira de um lago, com muito verde em volta, neve nas montanhas, em um lugar que chovesse bastante. Queria ter o prazer de ouvir a chuva caindo no telhado e gotas de água pingando numa lata. Todo o sonho do egípcio era ouvir, à noite, com a cabeça junto ao travesseiro, o singelo pingar da chuva numa simples latinha...

Inglês, o esperanto que deu certo

O árabe desisti de aprender no Egito. Sabia um pouco que havia estudado com dificuldade, chegava no mercado e começava a falar em árabe, iniciando com os cumprimentos salám alíkum (a paz esteja contigo) ou sabáh al-hír (bom-dia). Porém, os egípcios apenas se limitavam em me retribuir os cumprimentos em árabe. Vendo a minha cara de gringo, eles todos logo queriam treinar seu inglês mixuruca como o meu e o resto da conversa era, invariavelmente, em inglês.
A pronúncia de muitos egípcios que falam inglês é lastimável. Tratavam-nos por "míssiu", querendo dizer mister (senhor). Logo que chegamos ao Cairo, passando por uma quitanda, ao comprar umas frutas, o egípcio disse que eram "siri baun". Quebrei a cabeça para saber o que isso significava, mas quando ele me mostrou três dedos entendi que eram three pounds (três libras). Aquele "th" inglês, que o Lula, o Vicentinho e o Romário pronunciam tão bem, eles convertem em "z" ou "s" e estamos conversados. Nas aulas de inglês, quando a professora pedia para repetirmos tudo o que falava, quando dizia altogether (todos juntos), o coro árabe era sempre o mesmo: "oltuguézer".
Quando cheguei no Egito, pensei que sabia alguma coisa da língua inglesa. Mas foi uma decepção. Você ouvindo as pessoas falando rapidamente, tendo que responder em seguida, é outra história. Hoje, embora não fale com muita fluência, já consigo entender bem uma conversação, noticiários na TV e no rádio, além de ler revistas e jornais sem nenhum problema. No Egito, até me arrisquei a alçar vôos mais altos, lendo Death on the Nile (Morte no Nilo), de Agatha Christie, e The Beginning and the End (O Começo e o Fim), do escritor egípcio Naguib Mahfouz, vencedor do prêmio Nobel de Literatura em 1988. O que me fez perguntar: quando nosso escritor Jorge Amado, bastante conhecido no Egito, irá também receber essa mesma honraria?
Já que o árabe era difícil de aprender devido à falta de colaboração dos egípcios, passei a me dedicar ao inglês mais a fundo. Os egípcios já tiveram o francês como sua segunda língua, devido à influência napoleônica. Mas, no momento, o inglês é a língua estrangeira mais importante para eles, devido à longa ocupação britânica sobre aquele país. O inglês é tão importante no Egito que até o dinheiro, a libra egípcia, tem numa face desenhos faraônicos e tudo escrito em inglês. Noutra face, com desenhos islâmicos, o valor é escrito em árabe. As placas, nas ruas da cidade e no interior do país, têm letreiros em inglês e árabe, muitas vezes só em inglês. As grandes lojas mostram, também, letreiros bilíngües, por vezes trilíngües.
A Nice e eu estudamos no British Council, da Embaixada Britânica, e o Wagner e a Cristiane, no International Language Institute, o ILI. É que no British só aceitavam pessoas com mais de 16 anos e o Wagner tinha, na época, 11 anos e a Cris, 9.
Observamos o rápido desenvolvimento de nossas crianças no inglês, a Cris tendo a melhor pronúncia em casa. O que prova que quanto mais cedo você começa o aprendizado de uma língua estrangeira, melhor. Ela até fez uma pequena poesia, como dever de casa. Você quer conhecer?
"What is this?
What is that?
It's a cat,
It isn't fat."
Minha mulher também teve um desempenho muito bom no British, estudando dois níveis completos. E ficou craque. Por duas ou três vezes, ouvi a Nice sonhar em inglês...
Para meu aperfeiçoamento, procurava ler de tudo em inglês, além de ouvir os noticiários de TV e da rádio BBC de Londres. Lia regularmente as revistas Time e Newsweek e diariamente os jornais Egyptian Gazette e International Herald Tribune. Lia, também, o jornal semanal Al-Ahram (As Pirâmides), editado em inglês a partir de 28 de fevereiro de 1991. Esse jornal me deu muitas informações valiosas sobre a vida egípcia, o dia-a-dia das pessoas, locais de interesse turístico, tanto da cultura árabe, copta, quanto do antigo reino dos faraós. Muitos tópicos relatados neste livro tiveram aprofundamento extraído do Al-Ahram.
Há no Cairo três canais de televisão, todos de propriedade do governo. No Canal II podíamos ouvir noticiários em francês, às 19 horas, e em inglês, às 20 horas. Era um programa bastante compacto, de 20 minutos, que só mostrava imagens da Europa e dos EUA, além do Egito e do mundo árabe. Dificilmente aparecia alguma imagem sobre o Brasil. A TV egípcia é muito precária, há intermináveis lacunas entre um programa e outro, com a tela em azul. A técnica é rudimentar, com os apresentadores lendo diretamente os textos no papel sobre a mesa. Nada de teleprompter. Lá pudemos constatar, bem como em Roma e Paris, que as emissoras de TV no Brasil estão entre as primeiras do mundo, esbanjando técnica e qualidade. Não ficam devendo nada para ninguém. Porém, levam mole o troféu de programação mais irresponsável do planeta. O lixo que se vê nelas não é brincadeira.
Após a invasão iraquiana no Kuwait, em 2 de agosto de 1990, a TV egípcia transmitia, durante algumas horas diárias, o canal americano CNN. Esse canal era o nosso referencial durante a Guerra do Golfo, já que o noticiário local é censurado e pouco mostrava sobre o assunto. Porém, em matéria de informação, a CNN também foi uma decepção. Todos sabemos o quanto os americanos dificultavam o acesso às informações, segundo eles, por motivo de segurança.
To improve (para aperfeiçoar) meu inglês, sempre que podia eu escutava a BBC de Londres. Durante o conflito no Golfo Pérsico, todo dia, às 8 horas da manhã (6 horas em Londres), eu sintonizava o rádio naquela emissora famosa e era com grande expectativa que ouvia a introdução: This is London. It's 6 o'clock Greenwich Mean Time. (Aqui é Londres. São 6 horas, hora média de Greenwich). E a apreensão em saber dos últimos acontecimentos, mais um Scud caído em Israel ou na Arábia Saudita, mais 3 mil incursões aéreas dos aliados contra o Iraque, Israel prometendo revidar a agressão.
Através da BBC ouvimos também algumas notícias do Brasil, na maioria das vezes nada agradáveis, como a matança de crianças, conflitos de terras, a morte de mais um líder sindical, choques de garimpeiros com índios. Também tivemos notícias boas, como as 4 vitórias consecutivas de Ayrton Senna sobre Nigel Mansel em 1991, e que acabou se consagrando campeão na Fórmula 1.
Durante uma aula de inglês com a professora Yvone, de origem britânica, a pergunta inicial era o que significa national anthem. Por acaso eu era o único a saber que era "hino nacional" e a professora pediu para eu explicar aos outros que não sabiam. Fiquei surpreso quando a professora me pediu para cantar o nosso Hino Nacional. Foi com bastante emoção que comecei a cantar nosso lindo Hino, apesar de ter ficado com receio de não sabê-lo mais por completo. Felizmente, minha memória não falhou e fui até o fim da primeira estrofe sem problemas. Fui aplaudido por todos. Interessante é observar a coincidência do nosso Hino da Independência com o Hino Nacional Egípcio: a primeira frase musical, em ambos os hinos, é muito semelhante.
Uma das coisas boas que eu aprendi na caserna foi dar valor aos símbolos pátrios, tão esquecidos dos nossos colégios hoje em dia. Até Educação Moral e Cívica tiraram da escola, porque os nossos doutos educandos de hoje acharam que aquela disciplina foi obra dos governos militares e, portanto, deve ser enterrada para sempre.
Uma coisa me deixou convicto de vez, visitando outras localidades, como Israel, Roma e Paris. O inglês é mesmo fundamental no mundo moderno. Muitos podem até não gostar do way of life americano, de seu poder se estendendo sobre o mundo todo como a única superpotência que sobreviveu à guerra fria. Porém, da Europa à China, da Escandinávia ao Pólo Sul, você não pode passar sem essa maravilhosa língua que quebra todas as barreiras culturais, se faz entender e é entendido nessa nossa formidável Torre de Babel que é o planeta Terra.
Neste nosso vasto Brasil, unido pela mesma linguagem, não sentimos falta de qualquer outro idioma. Com a entrada em vigor do MERCOSUL, passaremos a sentir a necessidade de sabermos um pouco mais de espanhol, talvez mais do que o inglês. Porém, embora em nosso país o inglês só sirva para guias turísticos, estudiosos, empresários, ricaços e artistas que viajam muito pelo mundo, que me desculpe Zamenhof, mas o inglês é na realidade o esperanto que deu certo.
Um detalhe me chamou a atenção no Egito. Quando falávamos com italianos ou espanhóis, passei a observar que eu entendia mais facilmente a linguagem deles do que eles a nossa. Analisando melhor, é fácil entender porque temos um vocabulário mais rico que o deles. Como Portugal sempre foi muito mais influenciado pelos países vizinhos do que conseguiu influenciar a estes, o vocabulário português tornou-se extremamente rico, talvez um dos mais completos do planeta, com muitas palavras extraídas do espanhol, do francês e do italiano. Sem mencionar os árabes, de quem recebemos inúmeros vocábulos pelo longo período em que dominaram a Península Ibérica.

A 11ª praga do Egito

Sabemos pela Bíblia que após as 10 pragas que afetaram todo o povo egípcio, o Faraó - provavelmente Ramsés II - permitiu que os hebreus partissem. Mas, depois que os hebreus desapareceram atrás das dunas de areia, o Faraó perseguiu-os e seu exército acabou por se afogar no Mar Vermelho, depois que todos os hebreus tinham passado a salvo.
Os hebreus trabalhavam como escravos na construção de uma cidade chamada Pi-Ramessés, citada na Bíblia, nome proveniente de Ramsés. Aquela cidade ficava no sítio da antiga Avaris, capital dos hicsos, perto de um canal ligado ao Nilo, ao norte da atual cidade de Ismailia.
Ismailia é, atualmente, cortada pelo Canal de Suez e possui muitos lagos em suas imediações. Perto de Port Said, já próximo ao Mediterrâneo, há também muitos desses lagos salgados. Segundo um livro que li sobre Ramsés II, que esqueci de anotar, os hebreus, quando saíram de Pi-Ramesés em direção ao Sinai, não passaram propriamente pelo Mar Vermelho, bem mais ao sul. Teriam atravessado um desses lagos salgados, que tinha ligação com aquele Mar. Aproveitando a maré baixa, passaram sem dificuldades. E quando o exército do faraó tentou fazer o mesmo, a maré estava subindo e um vento forte poderia ter revolvido com vigor aquelas águas, ocasionando o afogamento dos soldados. Não se pode afirmar se essa versão é verdadeira. Porém, o simples fato de os hebreus terem passado incólumes e os egípcios terem se afogado já demonstra um milagre.
Ainda hoje, quando vemos campanhas como a do Betinho, contra a fome, acontece também o milagre da multiplicação dos pães, que aparecem para matar a fome de muitos famintos, a roupa para vestir muitos maltrapilhos, a população se tocando e colaborando de alguma forma.

E a 11ª praga do Egito, qual seria?

No período do governo real que antecedeu a Revolução de 1952, houve quem trouxesse da Argentina uma planta ornamental de nome "jacinto aquático", que servia para embelezar os lagos dos palácios e casarões do Egito. É uma planta que cresce muito rápido naquele clima quente e úmido, e logo se alastra como praga.
Quando essa planta começou a se desenvolver nos inúmeros canais que levam a água do Nilo para a irrigação das plantações, começou a ser chamada de "a 11ª praga do Egito". O jacinto aquático rapidamente cobre os canais, seus baraços se entrelaçam formando um tapete verde rígido que impede a navegação dos barcos. Além desse inconveniente, a extensa rede formada por esse vegetal consome uma quantidade de água fenomenal. Em contrapartida, o Egito bem que poderia ter mandado para a Argentina, como castigo, e não para o Brasil, o aedes Aegypti, o mosquito transmissor da dengue...
O trabalho para erradicar essa praga é tarefa perdida, ao menos do modo braçal como é feito. Esse tapete verde que cobre os canais não deixa de ter alguma utilidade: é um filtro natural para purificar a água imunda e fétida que o Nilo apresenta na região do Cairo. A trama desse tapete é tão firme e resistente que consegue sustentar pessoas. Os egípcios, sempre prontos para exagerar qualquer coisa, afirmam que muitos desses canais podem ser atravessados por jipes, tão resistente é o emaranhado do jacinto aquático...

Um corpo que cai

Há muitos edifícios sendo construídos no Cairo. Fica difícil imaginar de onde vem tanto dinheiro, já que o país é pobre e a infitah, a política de "portas abertas", é só relativa e ainda espanta investidores estrangeiros.
Os arranha-céus que crescem em todo o Grande Cairo são feitos sem nenhuma segurança para os operários. Os andaimes são improvisados com troncos de eucalipto e cordas.
Segundo nos afirmaram várias pessoas que moram no Cairo há bastante tempo, muitos operários já despencaram de prédios que hoje emolduram os cartões postais junto ao Nilo, como o Hotel Ramsés Hilton e as torres gêmeas, de concreto e vidro fumê, do Misr Bank (Banco Egípcio), muito parecidas - embora bem menores - com as do World Trade Center de Nova Iorque, que tremeram após um atentado terrorista.
O desleixo com a segurança não acontece só em prédios em construção. Na semana em que chegamos ao Cairo, próximo à Embaixada do Brasil despencou uma janela de ferro, matando um homem que passava na calçada.
Alguns meses antes de retornarmos ao Brasil, começaram reformas no prédio da Embaixada do Brasil, no último dos seus 13 andares. Você acertou, leitor. Caiu mesmo alguma coisa do prédio. Mas não foi um operário. Foram restos de cimento e pedaços de tijolo que num dia quebraram o vidro do Mercedes-Benz do nosso Embaixador e no outro, em 6 de novembro de 1991, o vidro traseiro do nosso Fiat. Nesse mesmo dia, o Emir do Kuwait fazia pose para as câmaras e apagava, através de controle remoto, o 732º e último poço de petróleo que ainda ardia, incendiado por Saddam Hussein.
Arguído, o engenheiro dono do apartamento em obras nos deu uma explicação bem razoável quando apresentei a conta do prejuízo: ele não era culpado pelo acidente, não havia jogado nada de propósito em cima do carro, lamentava muito o ocorrido e nada podia fazer. Traduzindo, não ia pagar uma piastra.
Fui então dar queixa na polícia, sabendo de antemão que não ia resolver nada. Apenas como precaução, já que as obras continuavam e o carro poderia sofrer prejuízo mais grave no futuro.
Chegamos à delegacia e um funcionário nos informou que logo um tenente nos atenderia. Como demorava, perguntei ao Salah, que levara como intérprete, o motivo da longa espera. Após as explicações, o Salah traduziu informando que o tenente estava rezando na mesquita e que já estava vindo.
Depois de meia hora, finalmente fui atendido. O tenente achou interessante a minha foto da carteira de motorista, que estava de viés. Quando mandei plastificar o documento, o operador da máquina tirou os grampos que prendiam a foto e esta correu um pouco durante a plastificação. Como o Egito é a terra do maalêsh, do "deixa prá lá", usei aquele documento durante os dois anos que lá estive, sem nenhum problema. Até carteira de motorista internacional tirei com aquele documento.
Enquanto me inquiria, toda hora um coronel numa sala distante chamava o tenente e este, após pegar o quepe deixado na mesa, ia atender com presteza, nos deixando a esperar mais um pouco. A operação bota-quepe-tira-quepe se repetiu umas 10 vezes e quase 2 horas após nossa chegada na delegacia a ocorrência estava devidamente registrada sob o número 2333/91.
A delegacia era de uma pobreza franciscana. Um escaninho atrás do tenente, com alguns papéis, era todo o mobiliário da sala, além do balcão e alguns bancos de espera. A ocorrência foi minuciosamente escrita em 2 folhas de papel-jornal, onde assinamos embaixo. O que foi uma temeridade. Assinar embaixo de um texto árabe, com aquelas letrinhas parecendo macarrão, e não entender nada, é o mesmo que assinar em branco. O tenente nos garantiu que o engenheiro responsável pelo estrago no carro seria chamado para dar explicações. Como o esperado, ficou tudo por isso mesmo. Fazer o quê? Maalêsh!

Dinheiro do Langoni e do Galvêas

Quando chegamos no Egito, em 5 de março de 1990, 1 dólar valia 2,67 libras egípcias (LE). Quando saímos do Cairo, em 14 de abril de 1992, dia do aniversário de minha mulher Nicinha (tomamos champanhe no avião, que chique!), o dólar valia LE 3,32. Em mais de 2 anos, a libra tinha se desvalorizado apenas 24,34% em relação ao dólar. Naquele período, obviamente, a inflação foi maior, porque o governo egípcio manteve, e ainda mantém, um câmbio artificial, que não reflete a realidade. Porém, para comparação, no Brasil a inflação em fevereiro de 1994, de apenas 28 dias, foi em torno de 40%.
No primeiro ano em que moramos no Cairo, os preços quase não mudaram. Meses e meses, até as piastras (centavos de libra egípcia) eram as mesmas, como a gente podia observar nas latas de leite Ninho.
Com o apoio dado aos aliados ocidentais contra Saddam na Guerra do Golfo Pérsico, o Egito teve perdoada toda sua dívida militar com os EUA e 50% de sua dívida externa com os EUA e a Alemanha, desde que cumprisse a cartilha do FMI, que passou a monitorar a economia egípcia e exigir medidas duras para saneamento de suas finanças. O governo começou a retirar vários subsídios, tanto de produtos alimentares básicos, como também de combustíveis e serviços públicos - luz, gás e telefone. E os preços aumentaram bastante.
A moeda foi controlada ferreamente pelo governo e a libra egípcia não se desvalorizou como era de se esperar. Por isso, no segundo ano deu para perceber a perda do valor da moeda a cada compra no mercado. Mas, não foi nem de longe o absurdo da inflação vista nos últimos anos no Brasil. Interessante é observar que, apesar da inflação continuar subindo no Egito, até o final de janeiro de 1995 o câmbio pouco tinha mudado - um dólar valia menos de 3,40 libras egípcias.
Vez por outra, o contínuo que trabalhava conosco na aditância militar, Salah, nos trazia dinheiro brasileiro e perguntava se ainda tinha valor, se eu podia trocar por libras egípcias. Eram pessoas que chegavam à Embaixada e tentavam trocar o nosso cruzeiro, cruzado ou cruzado novo, assinados por Galvêas ou por Langoni - os que me lembro - e não entendiam que aquele dinheiro não servia para mais nada, nem para mim que era brasileiro. O vexame era grande, pois nós, que temos um país riquíssimo, nos colocávamos nessa situação ridícula e eles, espremidos naqueles fiapos de terra cercados por deserto, tendo que importar 2/3 da alimentação, nos estavam dando exemplo de como ter uma moeda digna, confiável.
Por falta de eficácia do nosso governo e medidas mais duras contra os especuladores, não há plano econômico que sensibilize de vez industriais e comerciantes sem escrúpulos. Um exemplo cristalino pode ser dado a respeito. Na implantação do real, em 1994, os preços em cruzeiro real deveriam ser divididos por 2.750. Porém, as aves de rapina do comércio e da indústria apenas riscaram 3 zeros, ou seja, dividiram os preços apenas por 1.000. Por isso temos produtos três vezes mais caros que nos EUA e na Europa. Os salários foram fixados no rodapé enquanto que os preços foram parar no teto. Apesar disso tudo, os preços continuam subindo. O povo humilde, de baixos salários, e os aposentados mais uma vez se estreparam. Por uma questão de justiça deve-se afirmar que, ao menos por ora, possuímos uma moeda mais decente e já passamos a ter uma certa noção do valor dos preços - embora entre os mais altos do mundo.
Há pouco tempo, até os portugueses faziam piadas a nosso respeito, pela incapacidade de colocarmos um pouco de racionalidade em nossa moeda. No retorno ao Brasil, em 1992, vimos um outdoor em Lisboa, onde a revista Fortune dizia que o presidente Collor devia mandar nosso Ministro da Fazenda ler aquela publicação para resolver nossos problemas econômicos.
Para mostrar claramente como nossa moeda se depreciava, o Herald Tribune de 15 Nov 91 deu um exemplo bem prático: as 200.000 cópias do livro Zélia, uma Paixão, com preço de capa de Cr$ 6.500,00. Este valor, em março de 1990, quando Zélia Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda, equivalia a 170 dólares. No lançamento do livro, era menos de 7 dólares.
Assim, o que eu poderia ter dito ao egípcio sobre uma moeda podre que fazíamos questão de gastar com a máxima velocidade, que não dávamos valor algum? Que nem o nosso governo a queria e já a havia substituído por UFIR e tantos outros tipos de unidades monetárias? Que tinha que dizer a meu filho: "Vá correndo gastar sua mesada, que amanhã tudo estará mais caro!"? Depois da URV e do real, o que mais nos espera? Continuaremos a ter uma moeda que não serve nem para os colecionadores?

5º Jogos Africanos: Olimpíada Mubarak

Além da Copa do Mundo na Itália, em 1990, que acompanhamos pela televisão, houve outro evento esportivo de grande interesse no Egito: os 5º Jogos Africanos, realizados no Cairo e algumas cidades próximas, como Alexandria e Ismailia, a partir de 20 de setembro de 1991.
É uma copa africana em que quase todas as modalidades esportivas são disputadas, de 4 em 4 anos.
Foi construído um ginásio coberto, de alto gabarito, para completar a cidade esportiva em Heliópolis, onde também fica um grandioso estádio de futebol. A cidade esportiva é constituída de muitas edificações, uma verdadeira vila olímpica, com muitos ginásios, parque aquático, centros de convenções. Creio que estariam habilitados a sediar os jogos olímpicos sem muita dificuldade. Aliás, um dos sonhos do Presidente Mubarak.
Na cerimônia de abertura, à noite, toda a área próxima à vila esportiva ficou com suas ruas congestionadas. Muitas delegações estrangeiras nem chegaram a assistir a cerimônia de abertura, retidas nas ruas de Heliópolis. Voltávamos de Port Said e no engarrafamento perdemos o mesmo tempo que havíamos gasto na viagem de 220 km até o Cairo. Vimos passar a comitiva presidencial, armada até os dentes, com muitos guardas, batedores e até um pequeno carro de combate. Todo cuidado no Egito é pouco para a segurança de seu Presidente. Que o diga o ex-Presidente Sadat. Eu gostaria de ver o ex-Presidente Itamar, como presidente do Egito, se ele ia ficar brincando de gato-e-rato com sua equipe de segurança, dispensando sua guarda pessoal. Como é bom o nosso país e muitos não sabem!
Um amigo nos contou que na cerimônia de abertura dos Jogos os cristãos coptas praticamente não tiveram acesso ao estádio, tantas eram as dificuldades criadas.
A abertura dos Jogos Africanos foi abrilhantada com a dança de 1.800 meninas adolescentes seguida de show faraônico. Desfilaram carruagens faraônicas, soldados vestiam roupas simbolizando a antiga história egípcia, faraós e rainhas eram carregados por "escravos"em cadeiras fechadas. Com um bonito painel humano desenhando a palavra "PAZ" em 6 idiomas - devido à Conferência de Paz, entre árabes e judeus, prevista para iniciar naquele ano em Madri - e outras interessantes evoluções pelo campo, a tônica do evento foi uma exaltação ao Presidente Mubarak. Como já foi afirmado, com amplos poderes sobre o país, Mubarak é um "Ramsés" dos tempos modernos. Na realidade, os Jogos Africanos foram a "Olimpíada Mubarak".
Em muitos eventos, esportivos ou culturais, pode-se notar o empenho que os egípcios fazem em exaltar seus ancestrais. No encerramento de um festival internacional de cinema, pudemos observar o palco do teatro todo adornado com motivos faraônicos, incluindo portais de templos religiosos e obeliscos. Esse aspecto é sempre enfatizado pelos egípcios, embora anacrônico e já sem muito apelo. Os fundamentalistas islâmicos simplesmente abominam esse relacionamento com os antigos egípcios, principalmente por terem sido um povo politeísta. Por isso, criticam o governo por apresentar essa faceta como a mola propulsora do turismo no país - a história dos faraós com seus templos e suas pirâmides. Na morte de Sadat é bem significativa a afirmação de um dos assassinos do Presidente: "Matei o faraó!".
Durante os Jogos, os egípcios foram rápidos em aplicar seus ippons nos adversários - só que fora do tatame. Mil e uma mutretas foram armadas em cima dos estrangeiros. Viaturas que levavam delegações de outros países, às vezes enfrentavam "casualmente" tráfegos infernais, somente chegando aos locais da competição quando a mesma já havia acabado... Não é preciso dizer que o Egito ficou com o maior número de medalhas, prejudicando os outros 45 países estrangeiros.
No mês seguinte, em 11 de outubro, começou o VI Campeonato Mundial de Voleibol Masculino Juvenil, no Cairo, do qual o Brasil também participou.
O Brasil começou arrasador, ganhando da China, Venezuela, Iugoslávia, Bulgária e Japão. Mas tropeçou na Itália, ficando em 4º lugar. O campeão foi uma "zebra": a Bulgária.
Houve um fato interessante naquele campeonato. O time da então União Soviética não conseguia entender, no seu primeiro jogo, porque as cortadas de seus atletas saíam muito fortes, fora da quadra adversária, acabando por perder para a Tchecoslováquia.
Posteriormente, mataram a charada quando resolveram medir a quadra: estava com as dimensões inferiores à medida oficial... Maalêsh!

Passeios a cavalo e a camelo

Um hobby nosso, às sextas-feiras, dia de folga no Egito, era ir até a área das pirâmides para andar a cavalo ou a camelo. Mais a cavalo do que a camelo. Os camelos eram "pachorrentos e cansadíssimos de guerra", como diria Moacir Werneck de Castro, do Jornal do Brasil. Às vezes só encontrávamos matungos para montar. Porém, na maioria das vezes tínhamos sorte em andar em cavalos bem nutridos, que comprovavam a fama dos cavalos árabes, fortes, esbeltos, luzidios.
No primeiro passeio fomos literalmente "depenados" - como todo turista desavisado que não sabe o preço das coisas. Pelo passeio de uma hora pagamos 20 libras egípcias (6 dólares) por cada cavalo e o mesmo preço por um camelo, quando depois aprendemos que o preço normal eram 5 libras por cabeça. Maalêsh!.
No Egito, via de regra, os preços são mais altos para os estrangeiros, ao menos no que se refere a diárias em hotéis, entradas a museus e mensalidades escolares. Uma assinatura anual do jornal semanal egípcio Al-Ahram, em inglês, custa para os egípcios LE 26,00 (menos de US$ 8,00), para os outros países árabes US$ 60,00 e para o resto do mundo US$ 150,00. Fica a pergunta: estaria implícita a cobrança de uma espécie de juro aos "imperialistas" estrangeiros que exploraram o Egito por tantos séculos?
Os camelos na área das pirâmides são todos muito enfeitados e coloridos, como se fossem bonecos de brinquedo. Bastante fedorentos, muitos deles beijam o dono na boca após emitir um grunhido estranho. Um sucesso para as filmadoras dos turistas.
O passeio a cavalo ou a camelo começa numa área onde há vários estábulos, próximo a um teatro aberto, em frente às pirâmides, onde todas as noites há um show de som e luzes, com os alto-falantes discorrendo sobre a história faraônica em vários idiomas. Um passeio mais longo e não muito concorrido leva os turistas até as pirâmides de Sakara, a uns 20 km ao sul das pirâmides de Gizé. O passeio que sempre fazíamos nos levava até um local mais elevado, no deserto, de onde tínhamos toda a vista das pirâmides e, ao fundo, o Vale do Nilo e a cidade do Cairo. Daquele local pode-se ver não só as três grandes pirâmides mas 9 pirâmides ao todo. As pirâmides menores eram destinadas aos filhos e às mulheres dos faraós. Pode-se ver, ainda, ao sul do Cairo, os arranha-céus de Maadi, com as mais altas torres da cidade. Maadi é um bairro chique, com bastante arborização, onde moram principalmente americanos.
Um belo dia, fazíamos a costumeira cavalgada na área das pirâmides, com breves trotes e galopes, o beduíno que nos servia de guia fustigando os cavalos. Num desses galopes, eu estava um pouco à frente de minha família e de repente ouvi gritos. Olhando para trás, vi uma cena que não foi nada fácil para minha mulher: ela tinha caído do cavalo e ficara presa com um pé no estribo, sendo arrastada pelo cavalo a galope. Instintivamente, ela se desviava das patas do animal, que quase a golpeavam no rosto e no peito.
Rapidamente saltei do cavalo para acudi-la e chegamos juntos, o beduíno e eu, para frear o cavalo e socorrê-la, que a essa altura tinha desmaiado.
Quando voltou a si, a Nice me deu a maior bronca do mundo, por não tê-la socorrido de imediato. O pesadelo devia ter durado uns 10 ou 15 segundos, mas para ela foi uma eternidade.
Uma radiografia no pé tirou todas as nossas dúvidas. Não havia nada de mais grave, nenhuma fissura no osso, só uma marca roxa no pé que ficara preso no estribo. Coincidência ou não, depois desse dia não passamos mais a cavalgar na área das pirâmides. Seguro morreu de velho.
Há no Cairo uma excursão de 5 dias, em lombo de camelo, até um oásis. Um conhecido nosso contou a epopéia que é fazer um passeio dessa natureza. São dois dias para se chegar até o oásis, um dia para descansar dos solavancos do camelo e mais dois dias para a volta. Uma experiência que não vale a pena repetir.

Kkamsín, o vento de 5O dias

Khamsín (pronuncia-se "ramsín", o "r" carioca), em árabe, quer dizer cinqüenta. No Egito, khamsín é o vento que normalmente aparece na primavera - se é que no deserto possa haver primavera -, lá pelos meses de março e abril. Não aparece todo dia, nessa época, mas esporadicamente, num período de mais ou menos 50 dias. Por isso o nome de khamsín.
Ás vezes, esses ventos são verdadeiras tempestades de areia que deixam o Cairo com aspecto de fog londrino. Desert Storm (Tempestade no Deserto) foi a operação militar do Ocidente que expulsou os iraquianos do Kuwait. Nome bem apropriado, por sinal.
Em 1990, nós vimos pela primeira vez uma dessas tempestades cobrindo o Cairo de poeira. Mal dava para ver os edifícios do outro lado do Rio Nilo. Improvisando um rústico bazar, um quitandeiro amarrou entre duas casas um toldo que virou vela de navio, fazendo ruir a parede de uma das casas e machucando várias pessoas. Reclamaram quando bati uma foto.
Porém, um khamsín violento vimos no dia 3 de fevereiro de 1992 - um pouco antes da primavera. Durante o dia todo, o vento soprou forte, a poeira do deserto cobriu toda a cidade do Cairo, muitas árvores foram arrancadas, casas destruídas, tanto no Cairo quanto em Alexandria. Morreram umas 10 pessoas.
A poeira provocada pelo khamsín é como talco, penetra em toda parte, entrando por baixo da porta, pelas janelas fechadas e formando uma camada de pó na casa toda, inclusive dentro dos armários. O nariz fica uma meleca só. Não há proteção contra o khamsín, por mais fechadas que estejam as portas e janelas.

A ópera Aída

Inicialmente, a ópera Aída era para ser o grand finale das comemorações da abertura do Canal de Suez, construído pelo francês Ferdinand de Lesseps, em 1869. Mas houve contratempos. Embora seu autor, o italiano Giuseppi Verdi, tivesse finalizado a obra em 1869, a première só foi apresentada no Cairo em 24 de dezembro de 1871, num teatro que mais tarde um incêndio devorou.
Nas comemorações de seu 120º aniversário de apresentação, em 1991, assistimos à famosa obra no Cairo Opera House, junto à Torre do Cairo, um moderno complexo de salas para teatro, ópera e shows, construído e doado ao povo egípcio pelo governo japonês.
A ópera Aída é a história de amor de um general egípcio, Radamés, apaixonado por uma escrava negra etíope, Aída. Acusados de traição, acabam sendo sepultados vivos.
A orquestra foi conduzida pelo maestro italiano Danilo Belardinelli e os cantores eram todos egípcios, nenhum Pavarotti.
No primeiro ato, sobressai a romântica ária Celeste Aída, o cenário todo é composto de motivos faraônicos, colunas imensas, um templo ao fundo - idêntico aos portais do templo com obeliscos do filme Os Dez Mandamentos. Na parte inicial, a ópera é muito movimentada, com danças típicas executadas por escravos. Em cena, as preparações de guerra dos egípcios, na cidade de Mênfis, antiga capital do Egito antigo unificado, para fazer face aos etíopes no Baixo Egito, em Tebas, atual Lúxor.
O segundo ato é sem dúvida o ponto alto da ópera. A famosa Marcha Triunfal, com Radamés retornando vitorioso da campanha, é executada durante todo esse ato. A entrada dos vencidos depositando suas riquezas em frente ao faraó, as danças de escravos negros, o grande coral ao fundo, tudo prende ao máximo nossa atenção.
Nos terceiro e quarto atos há uma diminuição de ação. Os cenários ficam na penumbra, é mostrado o Rio Nilo banhado pelos raios da lua. E - heresia para os aficcionados do gênero - acabamos tirando uma ligeira soneca. A ópera começou às 20 horas e acabou depois da meia-noite.
Um imprevisto nos chamou a atenção durante o segundo ato. Na saída do coral, que era muito grande, havia uma coluna gigantesca que devia estar em falso e começou a balançar perigosamente, para lá, para cá, mas não caiu.
Porém, na noite de estréia, o fiasco foi maior, segundo soubemos pelos jornais. No início do segundo ato, enquanto as cortinas se abriam, havia ainda muitos trabalhadores em cena armando o palco. Uma coluna "levitava", sendo colocada no devido lugar. O contraste era bem forte: enquanto na platéia os homens estavam todos de terno e gravata e as mulheres com seus longos vestidos, muitos cordões e pulseiras de ouro, no palco um grupo de homens trabalhava com roupa jeans... Como dizem os egípcios, maalêsh!
Uma montagem exuberante da ópera Aída ocorreu em 1987. O local não poderia ter sido melhor: a frente da fachada do Templo de Lúxor e sua avenida com esfinges. Em 1994, para a comemoração dos 125 anos de criação da obra, houve uma montagem de Aída em frente de um dos mais esplêndidos templos do antigo Egito, construído em 1500 a.C. pela rainha Hachepsut, em Deir El-Bahri, próximo ao Vale dos Reis, em Lúxor. Celeste Aída!

Fodak, Ribacas, Made in Inland...

É notória a perseguição americana contra produtos farmacêuticos brasileiros, cujos fabricantes não pagam royalties pelo uso da fórmula química de muitos remédios. Não se precisa mencionar a pirataria em que se transformou o comércio de informática no Brasil, com equipamentos contrabandeados e softwares indevidamente copiados.
No Egito, observamos que os direitos autorais também não são respeitados. Há fitas "piratas" de vídeo e som que podem ser adquiridas em todos os cantos da cidade do Cairo, até em grandes lojas de departamentos. Há fitas de vídeo que os "piratas" não se deram ao trabalho mínimo de revisão, com repetições de cenas, falhas de toda ordem, falta de som.
O picolé Hebon, no Brasil, virou Sem Nome, por causa da pressão da Kibon. No Egito, a Kodak ainda não conseguiu fazer sumir as câmaras Fodak, feitas em fundo de quintal. A Ray Ban, da mesma forma, não conseguiu banir a pirata Ray Fan. Nem a Reebock conseguiu sustar a fabricação dos tênis Ribacas, que podem ser encontrados em muitas vitrinas cairotas.
No Cairo, a McDonald's também se faz representar, indevidamente, pela MaDonna, com aqueles mesmos arcos amarelos que identificam a famosa empresa americana de fast-food.
Mas, o mais interessante foi observar algumas bebidas alcoólicas que encontramos no centro do Cairo, à Rua 26 de Julho, que liga os bairros de Átaba e Mohandeseen. Em algumas dessas garrafas, com um líquido parecido a uísque, estava a arapuca: Made in Inland. Para um desavisado, a idéia é que estaria adquirindo alguma preciosidade da Inglaterra (England). Só que Made in Inland pode significar "Produto Nacional" ou até "Feito no Interior". Ou seja, não significa nada...
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COSTUMES DO EGITO
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Aluguéis no Egito

No Egito é gravíssimo o problema de moradias, por culpa de lei iníqua do governo. O aluguéis não podem ser reajustados e o inquilino tem todo o poder de fazer modificações no apartamento que ocupa. Além disso, torna-se "sócio" do proprietário: o dono do apartamento só consegue retirá-lo se oferecer outra moradia.
De modo geral, é como o conhaque Dreher, "de pai para filho". O apartamento alugado o inquilino pode depois passar para seu filho, depois para o neto e assim por diante. Por conta deste absurdo, há em torno de 2 milhões de apartamentos fechados em todo o Egito. Preferem deixá-los vazios, entregues às moscas e à poeira, em vez de "socializá-los". Ou então, alugá-los por temporada aos sauditas e demais árabes ricos da região do Golfo Pérsico. Ou ainda para estrangeiros que trabalham em embaixadas ou em companhias multinacionais operando no Egito. Sabem que não terão o problema do "inquilino-sócio".
Conhecemos uma brasileira, casada com um egípcio, que só pagava 10 libras de aluguel, o equivalente a 3 dólares. Como moradores antigos e a lei não autorizando nenhuma espécie de aumento, apesar da inflação, moravam de graça.
O problema de moradia é tão grande que milhares de pessoas no Cairo moram nas "Casas dos Mortos", como são chamados os cemitérios naquela cidade. Esses cemitérios ficam nas proximidades da Cidadela de Saladino e as pessoas circulam pelas tumbas com a maior desenvoltura. Muitos desejam transferir os cemitérios para longe da cidade, no meio do deserto, para que aquele local possa comportar conjuntos habitacionais para a população. Outros opinam por criar uma outra capital para o Egito, em pleno deserto, para aliviar a pressão populacional sobre o Cairo.
Várias cidades já foram construídas em pleno deserto, como a Cidade Seis de Outubro, entre o Cairo e Fayyum, e a Cidade de Sadat, a meio caminho entre o Cairo e Alexandria, na Rodovia do Deserto. Perto de Heliópolis, em pleno deserto, foi construída a Cidade de Násser, hoje um subúrbio do Cairo. O ideal seria que todas as cidades ficassem no deserto, preservando o Vale do Nilo para a agricultura. O Egito se ressente cada vez mais da perda dessas terras férteis para a construção de moradias, tendo que importar 2/3 dos alimentos pela absoluta falta de terra para a plantação. E não pense o leitor que não é viável construir cidades no deserto. Basta que a água chegue até lá. A Cidade de Násser possui largas avenidas, edifícios modernos, muita arborização e uma qualidade de vida que não se observa na maioria dos subúrbios do Cairo.

A mídia

A revista Veja escreveu um artigo sobre o Egito, no qual garantiu que muitos cairenses moram em cemitérios enquanto cães disputam ossos de defuntos... Com certeza, deviam ser ossos de cabras ou ovelhas, animais de abate muito comum no Egito. Como se observa, a imprensa muitas vezes distorce a realidade, mais engana do que informa, sua linguagem muitas vezes é cínica, cheia de meias-verdades e mentiras-inteiras.
Por essas e outras deve-se ter um cuidado redobrado com o "4º Poder" de nossa República, se não o 1º: a mídia. Ávida por vender cada vez mais o seu produto, com "focas" sem escrúpulos para mostrar serviço ao dono da empresa, cada dia que passa devemos estar mais atentos com ela.
Quem ainda não presenciou com os próprios olhos algum fato coberto pela imprensa e depois viu nos noticiários sair tudo distorcido?
Um jornalista de renome contou um caso interessante para exemplificar a falta de pudor de certos profissionais da imprensa. Em uma cobertura de desfile militar do Sete de Setembro, em Brasília, aplicando técnica de contagem da população presente que aprendera na universidade - distância poste a poste, largura da calçada, densidade das pessoas presentes, número de postes na rua do desfile, etc. -, o jornalista calculou em 60 mil o número dos assistentes. Depois, ao passar por um grupo de companheiros de profissão, ouviu que estes estavam confabulando para chegar a uma conclusão sobre o número da assistência. Um deles sugeriu que deviam ser uns 30 mil. Outro retrucou: "Que nada, não vamos dar essa moleza para os milicos, 15 mil está ótimo!". Depois de alguma discussão, chegaram a um número comum para colocar nos jornais: 20 mil...

Pass Comfort exótico

No Egito, as mulheres não passam roupa. Essa regalia é exclusiva dos homens.
Há centenas de lavanderias nas áreas residenciais de classe alta e média, com os seus passadores de roupa, todos homens. A mulher egípcia de certa posição vive como princesa. Nem água para ferver ela coloca no fogão, para o tradicional chá de todos os minutos. Assim, é lógico que não irá perder tempo passando roupa.
Nós também tínhamos um passador de roupa, que vinha a cada quinzena.
No primeiro dia em que veio o passador, enquanto estava na sala ensinando as crianças, minha mulher ouviu um ruído estranho vindo do quarto de meu filho Wagner, local onde o beduíno estava passando roupa. Pensou que o mesmo estivesse passando mal, foi até lá, mas estava tudo bem. Ninguém entendia o idioma do outro, mas através da mímica - minha mulher ficou doutora nisso no Egito - o beduíno deu a entender que não tinha nada. Depois, mais duas ou três vezes o mesmo ruído. A Nice foi conferir e o passador novamente deu a entender que estava tudo certo, não estava passando mal. Estava kúlo kuáis (tudo bem).
Então, pé ante pé, a Nice foi espiar para ver que diabo estava acontecendo. E acabou descobrindo, entre pasma e incrédula, que a água que ela tinha deixado para o sujeito beber estava tendo outro destino. O beduíno enchia a boca com a água da garrafa o quanto podia e borrifava a roupa para amaciar e dar aquele alisamento legal com o ferro elétrico. Fazia isso com uma técnica perfeita, um esguicho forte, com bastante precisão, que não permitia o desperdício de nenhuma gota d'água fora da roupa. Perfeição igual, só com uma garrafa spray da Pass Comfort. Que, por sinal, o beduíno tinha deixado de lado para exercitar seu exótico espargimento.
Posteriormente, na rua, em algumas biroscas, vimos alguns passadores também cuspindo água na roupa. E olha que sai bem passadinha...

Cruz Vemelha e Crescente Vermelho

Todos conhecemos a Cruz Vermelha, aquele organismo internacional dos "capacetes brancos" que oferece ajuda humanitária nas guerras e catástrofes em geral, e que age sempre em nome da neutralidade.
Os judeus têm seu similar, a Estrela Vermelha de Davi. E os árabes, o Crescente Vermelho. Como se vê, ninguém aceita o símbolo que não o da própria religião. É fácil entender porque os árabes não aceitam o símbolo da cruz. Seria o mesmo que se render à nossa fé, aos ocidentais "infiéis" que somos e que, segundo alguns fundamentalistas religiosos, seremos condenados a arder eternamente no fogo do inferno.
Assim, os árabes têm em suas ambulâncias o desenho da hilal (lua crescente), o Crescente Vermelho. O mesmo símbolo que se vê no alto das mesquitas.
No Cairo, tivemos a oportunidade de conhecer o presidente local do Crescente Vermelho, o médico palestino Dr. Fathi Arafat, irmão do líder da OLP, Yasser Arafat. Sósia do irmão famoso, mas sem o uniforme militar e o famoso lenço (keffiyeh) na cabeça, o palestino Fathi muito elogiou o Brasil, que conheceu há anos atrás. Em duas oportunidades, tivemos contato com o Dr. Fathi. Na primeira vez, batemos até uma foto juntos com ele, a Nice e eu, na casa de um amigo boliviano, Dr. Yussef Eid Torrico, casado com uma brasileira, Vera. O Dr. Yussef servia na Embaixada da Bolívia no Cairo, também é médico e, sendo descendente de palestinos, tinha uma íntima ligação com o Dr. Fathi.